quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Coleccionar para a Res publica – O Legado Dr. Anastácio Gonçalves

14 de Outubro de 2010 – a decorrer



No ano em que se assinalam os 100 anos da República Portuguesa, a história do coleccionador, médico e altruísta Dr. Anastácio Gonçalves é, certamente, um dos melhores exemplos da última centúria na defesa e prática de valores como a Liberdade, Civismo, Cidadania, Filantropia, Solidariedade com os mais desvalidos, Oportunidade e Igualdade de todos os cidadãos perante a lei, assim como Universalidade no acesso aos cuidados de saúde, à educação pela arte e cultura.

Desde a inauguração da Casa-Museu em 1980, as principais colecções de arte reunidas pelo coleccionador foram objecto de estudos variados. Todavia, o seu proprietário permaneceu envolto em mistério. À parte dos testemunhos de quem o conheceu, as suas motivações, aspirações e valores mantiveram-se até agora desconhecidas.

Esta exposição apresenta ao público obras de arte e novos documentos, como é o caso da inédita e primeira prova documental, de 1937, da intenção de um futuro legado ao Estado da Casa-Malhoa e da colecção de arte. Também, pela primeira vez, é revelado outro lado menos conhecido do Dr. Anastácio Gonçalves – o de doador de obras de arte a museus. Nesta mostra são ainda revelados aspectos menos conhecidos desta figura ímpar, como a sua valorosa prestação militar na I Guerra Mundial, estudos médicos, o gosto e critério de formação da colecção, bem como o mundo intelectual onde o Dr. Anastácio Gonçalves circulava, a sua preocupação e apoio aos cegos, fotos de viagem inéditas e, pela primeira vez, é editado um excerto de um Diário de Viagem à Volta do Mundo, realizada em 1958.

No catálogo, o testemunho do Dr. João Anastácio, familiar e testamenteiro que conviveu com o coleccionador, é um depoimento revelador da personalidade e figura evocada. Segue-se, no catálogo, um estudo de José Alberto Ribeiro sobre o “olhar cirúrgico” do coleccionador de arte, gosto e formação da colecção, com histórias do esteta exigente e rigoroso por detrás das aquisições de obras, relatos dos seus coetâneos e em alguns escritos deixados pela mão do coleccionador. Inês Fialho Brandão apresenta várias facetas até agora desconhecidas da vida deste homem, onde se destacam valores universais, como a Liberdade, Lealdade, Sacrifício pelo semelhante, Fraternidade, Educação e Rigor. Tomando como ponto de partida os inventários realizados com grande pormenor pelo Dr. Anastácio Gonçalves, o texto de Ana Anjos Mântua identifica através das proveniências das peças, a existência de um mercado de arte e de antiquariato em Portugal, entre os anos de 1925 e 1965, período no qual efectuou todas as suas aquisições. Tenta-se assim revelar, de forma talvez inédita, quem eram os principais agentes daquele mercado e quais as tendências do gosto que vigoravam na época, assunto até agora pouco tratado pela historiografia. Augusto Moutinho Borges traça uma linha condutora e comparativa com outros contemporâneos, todos eles coleccionadores, médicos e republicanos, assim como apresenta novos dados sobre a prática clínica do Dr. Anastácio Gonçalves. O período histórico e cultural vivido em Lisboa entre o ano de aquisição da Casa que é hoje museu e a morte do coleccionador, entre 1932 e 1965, é retratado por Irene Funsler Pimentel.

Pretendemos, assim, apresentar novos dados acerca da figura do coleccionador e filantropo Dr. António Anastácio Gonçalves, enquanto figura incontornável, pelo legado feito ao Estado para a criação de um museu, bem como para a compreensão da constituição das colecções de arte em Portugal no século XX.

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